Mesmo com o calor insuportável que pairou na noite
de domingo, Iran acordou bem disposto, mesmo para aquela, tradicionalmente contestada
segunda-feira. Lógico estava a poucas horas de conhecer as famosas pinturas
rupestres e a gruta da lapinha de Lagoa Santa.
Estava tão ansioso que mal tomou o café, e nem se
deu conta de que já tinha indo dormir com a seu precioso traje de exploração.
Apaixonado pelas histórias do grande Tintin
contadas pelo seu avô, Iran tinha um grande espírito de aventureiro.
Infelizmente sua cachorrinha Luly não era tão esperta como o cachorro do Tintin, Bilú. Era uma cachorrinha que
parece mais um ratinho, era terrivelmente preguiçosa, mas sem dúvida
companheira.
Iran pegou suas tralhas e seu cavalo chuvisco. Ah!
Já ia me esquecendo, Iran morava com sua mãe mais sua pequena irmãzinha Náh em
um sítio próximo a trilha da travessia. Eram tempos difíceis, seu pai tinha ido
para São Paulo a procura de emprego depois da morte de seu avô contador de
histórias João de Xica. Ele não iria sozinho, seus amigos Caio e Neguin já o
esperavam perto do curral de Seu Leopoldo.
- Iai!? Turma
ocês tão bão? (Iran)
- Não comotú,
mas pretendemos! Rsrsrsr (Caio)
- Só se for
minha mão na sua cara, palhaço! (Iran)
Neguin acordou muito chateado, pois ele morava a 15
km do curral de Seu Leopoldo, então tinha que acorda mais sedo o que provocava
uma tremenda irritação. Seus amigos já sabiam de seu temperamento, por isso
esperavam dele o começo de prosa.
- Cala a boca
cês dois! Vamos embora logo! (Neguin)
Eles
já tinham um roteiro em mente, primeiro ir à gruta da lapinha e depois
percorrer a trilha da travessia, e talvez se der certo ir ao túmulo do Dr.
Lund. Neguin tinha um livro bastante legal sobre o Homem de Lagoa Santa que são ossadas humanas descobertas na região de Lagoa Santa que desafiam as
teorias a respeito da ocupação humana do continente americano, ossadas essas
descobertas pelo o paleontólogo dinamarquês Peter Lund, em meados de 1832.
- Neguin,
ocê sabe chegar à gruta sem passar pelo córrego? (Caio)
- ô bicho,
sei não! (Neguin)
- Fica de
boa Caio, estamos de férias mesmo... (Iran)
-
O problema é que não trouxe muito trem
para comer... (Caio)
Caio
era um gordinho muito inteligente e apaixonado por astronomia. Gastava quase
toda sua noite em observar o céu, um dos dias mais feliz de sua vida foi quando
observou um meteorito, como dizia ele: “Foi
massa demais!”.
A
expectativa era chegar à gruta em no máximo duas horas de cavalo. Quando se
aproximaram do córrego Iran ouviu um latido, era Luly que tinha seguido os
rapazes, certamente tinha latido com medo da água.
-
Mais que diabo que essa cachorra tá
casando aqui! Vem para cá Luly! Mas ocê dá peso! (Iran)
-
Iran é melhor ocê carregar esse ratinho...
vai que morre afogada... rsrsrs (Caio)
Os
rapazes já podiam vê a gruta, em 15 minutos possivelmente chegariam. Nenhuns
deles já estiveram lá antes, mas o caminho da gruta já era conhecido por todos.
Quem tomava conta da gruta era uma família de pesquisadores paleontólogos da
capital, a família era formada pelo Dr. Peres mais sua esposa Carla que dava
aulas de Física na escola da comunidade e sua filha Larissa, a grande paixão de
Iran.
-
Neguin, ocê conversou com Larissa que
iriamos visitar a gruta? (Iran)
-
Eu não! A gruta não é dela... (Neguin)
-
Deixa de ser bobo... Tinha que ter falado
com ela, talvez fosse com a gente... (Iran)
-
Sei o que se tá querendo, malandrão... (Caio)
O
Dr. Peres avistou os meninos de longe:
-
Onde está indo? Meninada! (Dr. Peres)
-
Visitar a gruta Dr. Peres! (Neguin)
-
Mas os três sozinhos, num dá para
entrar... (Dr. Peres)
-
Então vem com a gente. Tem um tempão que
a gente tá querendo visitar! (Neguin)
-
Acho que Larissa já está lá dentro. Vou
chama-la para ir com vocês, enquanto isso pode colocar seus cavalos naquela
sombra perto do cocho. (Dr. Peres)
Enquanto
o Dr. Peres ia à procura de sua filha, os meninos preparavam para entrar na
gruta. Iran estava tão aflito que não sabia se era pela visita ou por causa de
Larissa.
Todos
estavam preparados para acampar, o estoque de comida de Caio já estava na
metade. Na espera de Larissa aproveitou a chance de pegar algumas acerolas da
dona Carla.
-
Larissa? Tem uns meninos querendo entrar
na gruta! Você quer acompanha-los para mim? Estou bastante ocupado... (Dr.
Peres)
-
Tá de boa pai! Manda eles virem.
(Larissa)
-
Fica aqui na entrada esperando eles.
(Dr. Peres)
Depois
de se encher de acerola, Caio fica preocupado em entrar na gruta. Muito por
causa das histórias contadas pelo velho João de Xica, mas tentava manter a
calma por causa das brincadeiras dos rapazes.
-
Os meninos podem descer. Larissa está
esperando vocês lá em baixo. (Dr. Peres)
-
Obrigado Dr. Peres! Tchau Tia Carla, até
mais! (Iran)
-
Tchau crianças, cuidado! (Dona Carla)
Muito
empolgados Iran mais seus amigos descem muito rápido para entrarem na gruta.
-
Ei pessoal! Como vocês estão? Estão
preparados para explorar? (Larissa)
-
Claro! Vamos com tudo! (Iran)
Ao
entrarem pelo salão principal da gruta eles já ficam impressionados pelo salão das
cataratas, que é uma formação rochosa parecida com uma cachoeira.
-
Galera! Antes de vocês chegarem eu estava
em um salão muito maneiro. Mas é proibida a entrada. Vocês gostariam de ir lá
comigo? (Larissa)
-
Num sei não! É melhor a gente seguir o
caminho certo, vai que ficamos perdidos! (Caio)
-
Caio tem razão. (Neguin)
-
Mas peraí pessoal, talvez seja legal!
(Iran)
-
Sei! cê nem sabe onde é que estamos agora
e fica dando ideia errada. (Neguin)
-
É por causa de Larissa, com certeza!
Rsrsrs (Caio)
-
Nada a vê... Só queria explorar. Mas o
que tem de tão especial neste salão que você achou Larissa? (Iran)
-
Eu achei umas pinturas bem diferentes
daquelas encontradas aqui no parque do Semidouro. Preciso da ajuda de vocês! Tem uma pedra enorme e preciso retirá-la
para vê o restante da pintura. (Larissa)
Mesmo
contrariados Neguin e Caio decidiram ir com Iran e Larissa no misterioso salão.
Para
entrarem no salão tinham que deixa suas mochilas, a passagem foi feita em um
pequeno buraco no salão da Catedral. Ao entrarem viram tais pinturas que
Larissa falou, mas não viram nada de diferente, como ela tinha sugerido, afinal
era a primeira vez que tinham visto uma pintura rupestre.
Larissa
não estava muita a fim de manter dialogo com os meninos. Queria que eles
ajudassem a tirar aquela pedra enorme que impedia de vê toda a imagem, talvez
seja por isso que ela aceitou em acompanha-los na expedição.
-
O pessoal! Acho melhor a gente ir embora
num tô gostando nada disso! (Caio)
-
Deixa de ser medroso! Já estamos aqui!
Fica calmo! (Neguin)
-
Vamos logo! Ajudem-me tirar esta pedra!
(Larissa)
-
Lara! Será que podemos fazer isso?
(Iran)
-
Claro que não! Se meu pai ficar sabendo
vamos entrar em maus lençóis... Segredo pessoal!!! (Larissa)
Com
um assombroso esforço os meninos conseguiram retira a pedra.
-
Uau! (Larissa)
-
Aquilo está parecendo uma nave!
(Iran)
-
E tá atirando em uma bola! Será que é a
Terra? (Caio)
-
Tem uns bichos acima daquela bola!
(Neguin)
Sem
entender muito bem o que representava aquela imagem Larissa resolveu desenhá-la
em seu caderninho:
-
Pessoal, acho melhor a gente falar com o
meu pai! (Larissa)
-
Uai, mas ocê num falou que ele não iria
gostar de entrarmos aqui? (Caio)
-
Mas temos que falar! Esse desenho, pelo
que estou percebendo pode responder uma misteriosa teoria de migração dos
humanos na América! (Larissa)
-
Como assim? (Neguin)
-
Meu pai vive procurando fósseis
pré-históricos para tentar responder quando e por que humanos vieram para cá!
(Larissa)
-
Uai, vieram com Pedro Alvares Cabral. O
descobridor do Brasil! (Caio)
-
Deixa de ser lesado! Os índios já viviam
aqui desde muito tempo! (Iran)
-
Não meninos! Estou falando de povos muito
mais antigos que os nossos índios? Vocês não se lembram da Luzia? (Larissa)
-
É o mais antigo esqueleto humano
brasileiro conhecido. Apelidada de Luzia, a "Eva" do Brasil viveu
entre 11 mil e 11500 anos atrás. (Larissa)
-
Ah! Eu já ouvi falar! É aquela que foi achada
na lapa vermelha? (Iran)
-Isso! Meu pai me disse que alguns
pesquisadores acham que os primeiros povos americanos tenham percorrido o longo
trajeto entre o estreito de Bering para chegar América do Sul isso aconteceu em
apenas algumas centenas de anos. (Larissa)
-
Mas onde fica este estreito de Bering? (Iran)
- Um canal marítimo localizado entre o Cabo
Dezhnez e o Cabo Príncipe de Gales. É a ligação mais estreita entre o continente
asiático e americano. Mas se foi realmente essa a rota utilizada, a migração
tem de ter começado mais cedo. Porém, antes de 12 mil anos, o estreito de
Bering estava bloqueado pelo gelo, ou seja, era impossível para o homem
atravessá-lo. (Larissa)
Todos
estavam perplexos com o achado, não sabia em o que fazer. Será que realmente
aquela pintura era verdadeira? E se fosse verdadeira? O que de fato ela
representa?
Com
aquele choque de informações eles decidiram conversa com o Dr. Peres sobre a
pintura, com essas novas notícias não estavam mais preocupados por violar o
salão da gruta.
-
Até que fim vocês chegaram! Já ia mandar
Peres atrás de vocês! (Dona Carla)
-
Mãe! Vou falar um trem procê, mas promete
que num vai ficar chateada? (Larissa)
-
O que você fez menina? (Dona Carla)
-
Achamos um salão novo na gruta. Dá para
chegar nele atravessando um buraco no salão da catedral. (Larissa)
-
Seu pai não vai gostar nada disso! (Dona
Carla)
-
Mas encontramos uma pintura rupestre
muito massa, olha! Eu desenhei... (Larissa)
-Nossa! Tem certeza que desenhou certinho?
Vou chamar seu pai... (Dona Carla)
***
Enquanto
os meninos estavam na gruta, Dr. Peres mais o seu estagiário Tim estavam
percorrendo uma rota similar à trilha travessia em busca de novos fósseis ou
utensílios pré-históricos.
Desde
que chegou ao parque de Semidouro Dr. Peres não teve muita sorte nas suas
buscas, o máximo que consegui em dois anos de trabalho foi 5 potes de cerâmica
e um dente da preguiça gigante. Estava tão preocupado que cogitaria a voltar
para capital lecionar.
Sentado em um lajedo para descansar o seu telefone toca:
- Peres, vem para
cá! Lara achou algo que você vai gostar! (Dona Carla) - telefone
- Mais o que é?
(Dr. Peres) - telefone
- Vem logo! (Dona
Carla) - telefone
- Tim ande! Temos
que voltar! (Dr. Peres)
***
- O que você achou
Larissa? Pergunta o Dr. Peres apreensivo.
- Achei está
pintura na gruta! (Larissa)
- Meu Deus! Você
num tá de brincadeira não né!? (Dr. Peres)
- Que isso pai!
Pode pergunta aos meninos! (Larissa)
- Meu bem o que
percebo nesta imagem é que existem alguns homens fugindo de uns “olhos” ou
monstros e para escaparem pularam em um buraco no pólo da Terra e saiu no outro
pólo. (Dona Carla)
- Isto é uma
brincadeira! É impossível fazer está trajetória, nem mesmo nós com a nossa
tecnologia pode fazer isso, imagina eles a milhares de anos atrás... (Dr.
Peres)
- Desculpa Dr.
Peres mais parece que eles tiveram ajuda para fugirem... Sei lá se isso que
aconteceu. (Tim)
-É mesmo parece um
Deus! Deve ser pela aureola em sua cabeça. (Dona Carla)
- Onde ele está
parece uma nave, talvez seja um extraterrestre que os ajudaram fazendo em
túnel, por isso que eles o idolatraram como um Deus, ou talvez, seja de fato um
Deus! (Tim)
- A Tim num me
venha com estas suas história dos antigos astronautas de novo! (Dona Carla)
- Desculpe Dona
Carla mais é uma possibilidade que devemos levar em consideração. (Tim)
Dúvidas e mais dúvidas pairam naquele lugarzinho do mundo
chamado gruta da lapinha. Todos tem dificuldade em acreditar na pintura. Mas
como poderia um túnel que atravessaria os pólos da Terra ser um caminho
percorrido pelos antigos? Nem os mais céticos poderia prever tal situação.
E o pior! Foi feito por seres “supremos” ou povos de
outros mundos para ajudarem estes pobres seres vivos a fugirem daqueles “olhos”
ou monstros. Qual será a real intenção em ajuda-los? O que eles viram nestes homo sapiens?
Certamente Dr. Peres era o mais descrente naquela
situação.
- Lara você pode me
levar até lá? (Dr. Peres)
- Claro pai, mas
acho que você não vai conseguir entrar. É um buraco muito pequeno. (Larissa)
- Tim prepara os
equipamentos para descermos. (Dr. Peres)
- Ok! (Tim)
Enquanto Tim organiza a entrada na gruta, Dona Carla
prepara um lanche para os meninos.
- Iran, vamos ainda
à trilha da travessia? (Neguin)
- O Neguin, eu acho
melhor a gente ficar por aqui! (Iran)
- Eu num vou entra
mais lá não vou ficar aqui com a Tia Carla. Aproveito em como mais algum
trem... rsrsrs (Caio)
Eles resolvem descer a gruta. Caio e Dona Carla ficaram
na casa.
- Onde é o buraco
Lara? (Dr. Peres)
- Fica no salão da
Catedral. É aquele ali – apontando para o buraco. (Larissa)
- É bem pequeno
mesmo, mas acho que dá para entrar. (Tim)
- Vamos alarga-lo
primeiro. Iran, Neguin e Lara pega estes martelos e comece a quebra as bordas
deste buraco por dentro que Tim e eu vamos por fora. (Dr. Peres)
Durante uma hora conseguiram fazer com que o buraco
ficasse mais acessível a sua passagem. Ao entrarem Dr. Peres e Tim ficaram
muito felizes com a pintura. E com seus conhecimentos acreditavam que eram
muito mais antigas que os habituais indícios de povos antigos de Lagoa Santa,
talvez sejam mais velhas que a cultura Clovis - um bando de caçadores que
fabricavam lanças de pedra lascada e eram especialistas na matança de grandes
mamíferos, como o mamute. Considerada por muitos os mais antigos moradores das
Américas.
- Mas Dr. Peres,
como é que eles conseguiram atravessa a Terra desça maneira? (Iran)
- Pelo que me
lembro das aulas de Física. Se a gente cair em um túnel que liga diretamente os
pólos como no caso da pintura. Quando aproximamos do centro a atração
gravitacional vai diminuindo cada vez mais... (Dr. Peres)
- Como assim Dr.
Peres? – interrompendo (Iran)
- Imagine você
caindo no túnel, ok? (Dr. Peres)
- Beleza!
(Iran)
- Congele a imagem
depois que você tiver caído até certa distância do centro. Agora imagine uma
esfera cujo raio seja essa distância, com o centro da Terra. A massa no
interior da esfera exerce uma atração sobre você, mas a casca formada pela
massa do lado de fora não faz a menor diferença. (Dr. Peres)
- Mas por quê?
(Iran)
- Por que para cada
atração exercida por uma parte dessa casca situada de um lado da Terra, existe
uma atração igual exercida por uma parte da casca situada do outro lado da
Terra. (Dr. Peres)
- E o mais legal é
que quando você chegar ao centro à atração é momentaneamente nula. (Dr.
Peres)
- E depois que eu
passar pelo centro? Continuarei caindo? (Iran)
- Agora você estará
subido, durante todo o resto do túnel, que será o inverso da descida. A atração
gravitacional vai crescendo. Assim você iria parar logo que chegasse à abertura
de saída do túnel. Pelo que me lembro, o tempo total de percurso é de 42
minutos. (Dr. Peres)
- Ah! Se você não
saísse ao chegar ao outro lado, iria se movimentar para baixo e para cima no
túnel para sempre. (Dr. Peres)
- Então deve ser
por isso que o “carinha” com a aréola fica na saída do túnel esperando os
outros. (Larissa)
- Mais Dr. Peres, e
o núcleo da Terra? Não teria alguma interferência na trajetória? (Tim)
- Tudo isso foi
feito levando em conta condições ideais, tais como a ausência de resistência do
ar, distâncias iguais para a descida e a subida, além da ideia de que você
conseguiu de alguma forma miraculosa sobreviver ao calor e outras condições
letais existentes no núcleo da Terra. (Dr. Peres)
- Mas parece que eles
conseguiram fazer isso!(Neguin)
Neste momento um silêncio acoberta a gruta da lapinha.
- É então temos que
ir a Antártica encontrar o túnel! (Dr. Peres)
Continua...
Texto ficcional apresentado na disciplina de Prática pedagógica VII – Laboratório de
Recursos Didáticos – Ensino de Ótica e Astronomia.
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